Até logo

Poucos meses depois da denúncia feita pela professora de Rai, o poderoso fazendeiro foi condenado pelo crime de estupro de vulnerável. A mãe da criança também foi condenada, pois era conivente com o estupro e realizava ameaças à vitima dizendo que não poderia ficar sem emprego, que a filha não poderia falar nada se não as duas seriam separadas e a criança não teria ninguém que cuidasse dela.

         Os detalhes mais sórdidos do caso não foram mencionados na família de Ribeirinha tanto para que não provocasse nenhum gatilho quanto para poupar Raiane. Aquele caso não dependia deles e por isso não mencionariam nada.

Nem todos da comunidade pensavam assim, mas todos foram advertidos pela autoritária Therezinha que aquilo não era assunto para eles.

Raiane realmente não tinha mais ninguém da família a quem recorrer. Por isso ficou sob a guarda provisória de Patrícia e Daniel, que adiaram o casamento indefinidamente e fizeram apenas um contrato de união estável.

Foi um ano difícil para a nova família, mas eles estavam cercados pelo amor de colegas e familiares. Patrícia ajudava Raiane com as lições e deitava ao lado dela todas as noites até que dormisse, dizendo que ela estava bem e que tudo daria certo. Daniel pintava com a criança – já que ambos eram muito bons com desenhos – e sempre trazia lápis e tintas novas, pois aquele era o refúgio que Rai encontrara para sua dor.

As melhoras eram progressivas ao longo dos meses e a menina reagia bem ao amor que recebia. Aos poucos passou a se comunicar mais e depois a tagarelar até que não pudesse mais.

Porém, nas primeiras semanas, Rai se recusou a falar com Ribeirinha. Culpava a amiga por estar separada da mãe e não queria conversa. Mas Ribeirinha insistiu, mandou cartas e fez incontáveis visitas até que a amiga a perdoasse.

Um ano depois Patrícia e Daniel conseguiram se casar. Raiane estava visivelmente mais alegre enquanto andava pelo tapete, de braços dados com sua melhor amiga, jogando as pétalas de flores no caminho com Patrícia as suas costas.

A noiva usava o mais belo vestido que Therezinha já havia costurado na vida e uma linda coroa de flores locais na cabeça. Daniel, por sua vez, chorava como um bobo, junto com a maior parte dos policiais da delegacia de polícia, enquanto via sua linda família caminhando para o altar.

Assim como foi com Maria, Ribeirinha acompanhou o desenvolvimento de Raiane. A menina apresentava melhoras consideráveis no apetite, nas interações sociais e nas notas. Não estava mais tão irritada quanto antes e era muito mais carinhosa.

Após a festa as meninas esconderam-se em um canto com vários doces nos bolsos, rindo e fofocando.

– É tão maravilhoso que você esteja melhor! Estou muito feliz por você – Ribeirinha falou com a boca cheia de brigadeiro.

– Ainda é estranho. Sinto saudade da mamãe. – Raiane olhou para o chão com um semblante entristecido e sua melhor amiga, ao perceber isso, segurou sua mão em apoio.

– Vai dar tudo certo, você só precisa de tempo e eu vou estar aqui durante todos os momentos, te prometo.

As férias estavam próximas e era assustador e emocionante pensar nas coisas que seriam diferentes. Ribeirinha temia pela amiga, assim como temeu pela prima, mas agora sabia que nenhuma criança como elas deveria passar por algo assim e por isso não se manteria calada enquanto as pessoas que amava eram machucadas.

Aquele ano ensinou muitas coisas para a pequena comunidade, que adquiriu novas informações para proteger seus integrantes. Aos poucos todos os adultos começavam a discutir sobre as violências que sofreram na infância sem sequer saberem, naquele tempo, do que se tratava. As crianças falavam com mais frequência sobre todas as carícias que as incomodavam e os pais compreendiam melhor seus filhos. A escola tinha aulas para todas as classes sobre prevenção à violência sexual e os professores estavam mais atentos aos alunos.

Todas essas mudanças foram sendo implementadas com o tempo e a comunidade, de um pouco mais de 300 pessoas, começou a mudar a sua visão e assim o futuro de todas as suas crianças também foi sendo alterado.

Essa parte da história está concluída, mas ainda há muita coisa a ser aprendida pelos nossos personagens e por vocês, nossos leitores. Por isso, fique atento, pois essa aventura não termina aqui.

– Nicoly Araújo e Diego Martins

 

Notas da autora:

 

A princípio as aventuras da Ribeirinha seriam apenas histórias que teriam um início, meio e fim em um único texto de, no máximo, 30 linhas. Mas eu sou um tanto exagerada e me empolguei de tal maneira com as personagens e a história que não consegui me conter e apresentei uma proposta do capítulo 1 com cerca de 4 páginas.

Eu aprendi enquanto escrevia, me apaixonei pelas crianças e pela ideia de ter pessoas que admirassem essa história tanto quanto eu. Só tenho a agradecer a todos os que acompanharam nossa comunidade durante esses 20 capítulos e espero do fundo do meu coração que tenham curtido essa aventura tanto quanto eu.

Não é um fim. Ainda temos muito a aprender. Em breve a Ribeirinha estará de volta para nos ensinar.

 

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