“Aventuras da Ribeirinha”: histórias infantis previnem violência sexual contra crianças e adolescentes

O abuso sexual contra crianças e adolescentes ainda tem altos índices no Brasil. Embora nos últimos anos esta temática tenha sido cada vez mais debatida junto à sociedade, muitos familiares e responsáveis ainda não sabem como proteger os menores – dados do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontam que 84% dos casos de estupro de vulneráveis acontecem dentro de casa.

 

Com o objetivo de levar, de forma lúdica, informações para prevenção da violência sexual cometida contra crianças e adolescentes na região Norte do país, o projeto Futuro Brilhante criou as histórias infantis chamadas de “As Aventuras da Ribeirinha”, que já possui 15 capítulos. No último domingo (18), foi celebrado o Dia Nacional do Livro Infantil, e iniciativa foi submetida ao prêmio Innovare 2021, na categoria “Educação em Direitos”, premiação que tem como objetivo identificar, divulgar e difundir práticas que contribuam para o aprimoramento da Justiça no Brasil.

 

Iniciativa traz abordagem lúdica

 

O conteúdo possibilita que os próprios moradores das comunidades sejam capazes de identificar momentos em que os crimes sexuais possam ocorrer ou já estejam ocorrendo e também busca instruir a todos acerca de como agir diante destas situações, provocando as pessoas a intervir para evitar, impedir ou denunciar os crimes.

 

Ao longo da história, disponibilizada de forma online e gratuita, são mostradas estratégias de prevenção à violência sexual e suas consequências na vida de crianças e adolescentes quando consumada. Entre os temas estão: como costumam agir os abusadores; quais os efeitos da violência sexual na vida das vítimas; os desafios para ensinar as crianças sobre como se proteger ao conversar com elas sobre educação sexual; ferramentas lúdicas que podem ser utilizadas para prevenir este tipo de violência; entre outros.

 

“A narrativa é realizada a partir do olhar de uma criança de oito anos de idade, e a linguagem utilizada para o desenvolvimento das falas dos personagens é simples e coloquial, para facilitar o entendimento sobre os conceitos jurídicos e as estratégias de prevenção à violência sexual, além de permitir a utilização das histórias no ambiente familiar e escolar com crianças e adolescentes”, explica o coordenador do Futuro Brilhante, Diego Martins, mestre em segurança pública.

 

Para a criação do conteúdo, a equipe seguiu algumas etapas, como: conhecer a realidade da violência sexual no Brasil e no Pará, principalmente em Belém, a partir da literatura e de dados disponíveis; levantamento bibliográfico de estratégias de prevenção a este tipo de violência e pesquisas de campo para conversar com pais, mães, profissionais da educação e agentes dos sistemas de justiça criminal e de segurança pública; definição do público-alvo e das estratégias de prevenção que seriam adotadas nas histórias; desenvolvimento dos personagens e do roteiro de acordo com características regionais; criação da identidade visual da protagonista e do site; e a criação dos primeiros capítulos.

 

A acadêmica de direito Nicoly Araújo, que participou da construção de “As Aventuras da Ribeirinha”, diz que a personagem, no primeiro capítulo, é uma criança que se depara com uma situação de violência sexual cometida na casa de um vizinho, com uma pessoa muito querida. A ribeirinha vive com a família em uma situação de vulnerabilidade social e precisa se livrar da violência sexual. Ela também sonha em ser professora e mudar a realidade de sua comunidade por meio da educação.

 

Segundo ela, a história é muito cuidadosa em abordar qualquer ponto e não despertar gatilhos. “Tudo foi pensado para ser visto através dos olhos de uma criança, pois aprendemos da maneira mais cautelosa e ingênua possível sobre o tema, ensinando crianças e adultos a entender sobre os sinais da violência, para tratamento adequado, e como conversar com os pequenos sobre um assunto tão delicado. Acredito que a ribeirinha te ensina o que fazer em situações assim e como prevenir”, opina.

 

Dados são alarmantes

 

Segundo relatório do Disque Direitos Humanos (Disque 100), publicado em 2020, no Brasil, a cada hora, três crianças ou adolescentes são violentados sexualmente, sendo que 82% das vítimas são do sexo feminino, 87% dos acusados são homens, 73% dos casos acontecem na casa da vítima ou do suspeito e 40% dos casos são cometidos pelo pai ou pelo padrasto. Ao todo, foram registradas 17 mil ocorrências deste tipo de violência apenas em 2019.

 

Localmente, a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Segup) aponta que, nos anos de 2019 e 2020, houve 366 crimes sexuais cometidos contra crianças e adolescentes no Pará, sendo 85 apenas em Belém. Entre 2009 e 2019, segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma), foram 11.720 casos de violência sexual cometidos contra crianças e adolescentes apenas na capital paraense.

 

Esses dados motivaram o projeto Futuro Brilhante a tentar transformar esta realidade por meio da história da ribeirinha, em produção desde janeiro do ano passado. “‘As Aventuras da Ribeirinha’ surgiram a partir do momento em que nos deparamos com dados tão alarmantes sobre crime sexuais cometidos contra vítimas extremamente vulneráveis, que não estão seguras nem dentro de suas próprias casas. A ideia foi fruto da necessidade de desenvolver novos mecanismos para alertar os adultos sobre a importância e a urgência de buscarmos meios para melhor proteger nossas crianças e adolescentes, envolvendo-os em estratégias de prevenção dinâmicas e interativas”, pontua Diego Martins.

 

Todos os capítulos da história da ribeirinha podem ser acessados neste site.

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