Sessão de cinema

Ribeirinha observava a mãe ajudar Patrícia a posicionar o projetor na mesa. Elas haviam chegado bem cedo e posicionado o lençol na parede da sala de aula do quarto ano. Depois ajudaram a professora do primário. Enquanto isso a garotinha mal ficava quieta nos próprios calcanhares, pulava animada e perguntava para a professora o que iriam ver.

Ela havia ficado assim desde que leu a anotação feita pela professora em seu caderno. Patrícia havia escrito que pretendia fazer uma sessão de cinema com as crianças sobre educação sexual e escreveu notas nos cadernos de todos os seus alunos perguntando se haveria algum problema para eles. Esta foi uma exigência da diretoria ao ouvir a sugestão da professora. Patrícia havia conversado com a professora do primário que concordou em participar desde que não fosse ela a pedir para Edileusa.

Os pais concordaram e também foram convencidos pela professora a participar da sessão de cinema. No fim, haviam vários pais tão animados quanto as crianças. Ribeirinha sentia de longe o cheiro da pipoca e da manteiga e salivava com a vontade de seguir o cheiro. As crianças foram separadas em dois grupos: as mais novas, de três à seis anos, e as mais velhas, de sete à dez anos.

Ribeirinha sentou junto com as crianças mais velhas e recebeu uma porção generosa de pipoca e guaraná. O filme repassado foi tirado do canal futura e se chamava “que abuso é esse?”. Na verdade, era uma série com fantoches e seus episódios tinham menos de 10 minutos. As crianças mais velhas assistiram sem perder nenhum detalhe.

“Acredita que um monitor marcava aulas de reforço em horários que a escola não havia determinado?” dizia a professorinha assustada e Ribeirinha achou que ela lembrava sua mãe.

Na historinha haviam desmascarado o monitor, pois descobriram que ele havia sido acusado de abuso sexual em outras escolas. Em outro episódio a professorinha comentou sobre uma rede de proteção formada por adultos que trabalhavam juntos para prevenir a violência sexual.

Ribeirinha desgrudou o olho da tela para olhar para a sua mãe, que tinha Kaio no colo e comia pacientemente a pipoca. Estava totalmente envolvida pela historinha. As crianças aprenderam a falar com uma pessoa de confiança, o papel da escola e os toques inapropriados:

“No contato sexual o adulto geralmente procura tocar as partes íntimas da criança ou quer que a criança toque as suas partes íntimas. Deve haver muito cuidado com as carícias empregadas por um adulto”.

        A sessão de pipoca terminou com palmas que os pais puxaram. Alguns ficaram para agradecer a Patrícia. Outros até compartilharam memórias ruins da infância e prometeram procurar a professora para que os orientasse melhor.

A professorinha sentiu-se resplandecente, apesar de todo o trabalho. Não era como se ela estivesse mudando o mundo, mas tinha a plena certeza de que algo estava mudando naquela vila.

 

– Nicoly Araújo e Diego Martins

 

Conheça as séries do canal futura que Patrícia mostrou para os alunos:

https://www.futura.org.br/projetos/crescersemviolencia/

 

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