{"id":2162,"date":"2020-11-06T17:23:18","date_gmt":"2020-11-06T20:23:18","guid":{"rendered":"https:\/\/futurobrilhante.net.br\/?p=2162"},"modified":"2020-12-31T09:11:22","modified_gmt":"2020-12-31T12:11:22","slug":"capitulo-2-nao-vamos-mais-falar-disso","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/futurobrilhante.net.br\/2020\/11\/06\/capitulo-2-nao-vamos-mais-falar-disso\/","title":{"rendered":"\u201cN\u00e3o vamos mais falar disso\u201d"},"content":{"rendered":"\t\t
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Passaram-se apenas 10 dias desde o ocorrido com Maria, mas a Ribeirinha sentia como se tudo tivesse acontecido no dia anterior. A comunidade estava agitada demais. Na escola n\u00e3o se falava em outra coisa, os amigos de Ribeirinha n\u00e3o sa\u00edam mais para brincar e a pr\u00f3pria garotinha n\u00e3o ia para a escola todos os dias e quando ia tinha que estar acompanhada da sua m\u00e3e. Todos ao redor de Ribeirinha pareciam afetados pelos acontecimentos.<\/span><\/p>

Menos tia Neuza, que ignorava tudo o que aconteceu com sua Mariazinha, negando-se firmemente a tocar no assunto. Isso gerou mais crises do que nunca na fam\u00edlia de Ribeirinha. L\u00facia insistia que era necess\u00e1rio abordar o assunto e procurar ajudar Maria, mas Neuza estava irredut\u00edvel.<\/span><\/p>

Para Ribeirinha n\u00e3o havia momento mais infeliz do que quando todos se sentavam \u00e0 mesa juntos, no jantar, onde o \u00fanico ru\u00eddo que ouviam era o da mastiga\u00e7\u00e3o, como se ningu\u00e9m mais pudesse se comunicar.<\/span><\/p>

Vez ou outra s\u00f3 se ouvia um serm\u00e3o de Neuza para que a filha comesse, mas quanto mais passavam-se os dias, mais comida Maria deixava no prato. Todos estavam preocupados demais para insistir para que ela comesse mais um pouco.<\/span><\/p>

Ribeirinha pensou que essa tristeza nunca mais se desfaria, principalmente para a pobre prima. Tudo piorou com o acontecimento do dia posterior \u00e0quele em que a menininha foi \u00e0 delegacia.<\/span><\/p>

Quando todos souberam o que ocorreu com a neta de Therezinha, tentaram invadir a casa do agressor, pais de crian\u00e7as que sempre visitaram o lugar batiam com peda\u00e7os de pau no port\u00e3o.<\/span><\/p>

Maria ouviu o barulho e tremeu tanto que n\u00e3o suportava ficar em p\u00e9, encolheu-se no canto da sala e vomitou. L\u00facia disse que ela estava em p\u00e2nico, abra\u00e7ou a menina com for\u00e7a e tapou seus ouvidos e a fez respirar lentamente.<\/span><\/p>

Neuza, que sempre tinha uma rea\u00e7\u00e3o para algo, ficou paralisada ao ver a filha daquela forma. Sentou-se e pediu por um copo de \u00e1gua para si.<\/span><\/p>

Enquanto isso v\u00f3 Therezinha implorava para que todos fossem embora, ningu\u00e9m da fam\u00edlia odiava mais o agressor do que amava Maria, e n\u00e3o importava para Therezinha o qu\u00e3o doentio o homem era, ela s\u00f3 queria que a neta ficasse bem.<\/span><\/p>

Entre os gritos para parar, a multid\u00e3o dispersou-se quando a pol\u00edcia chegou e levou o homem.<\/span><\/p>

Ribeirinha estava curiosa para ver o vizinho. N\u00e3o lembrava mais do rosto dele desde o acontecido. Foi estranho ver que o homem que os policiais levavam para dentro do carro era um idoso pequeno e corpulento. Desde que Maria contou para a fam\u00edlia sobre ele, a Ribeirinha mudou a imagem mental que tinha para algu\u00e9m grande e feio que a daria medo e repulsa. Mas o homem era velho e normal. E isso a deixou confusa.<\/span><\/p>

A partir daquele dia a fam\u00edlia barulhenta e alegre ficou cada vez mais silenciosa e ap\u00e1tica, assim como Maria.<\/span><\/p>

Ribeirinha ficava em casa o dia inteiro. S\u00f3 sa\u00eda para a escola trazendo consigo as li\u00e7\u00f5es de Maria, que normalmente n\u00e3o as fazia sozinha, precisando sempre da ajuda de L\u00facia. Ribeirinha tentava convencer a prima a sair um pouco ou brincar.<\/span><\/p>

– Eu quero ficar sozinha, me deixa – respondia a garota em um tom raivoso.<\/span><\/p>

– Mas eu posso deixar voc\u00ea fazer penteados em mim e n\u00f3s brincamos de sal\u00e3o, podemos fofocar – Ribeirinha sabia que era uma das brincadeiras favoritas da prima.<\/span><\/p>

– Sai daqui, Ribeirinha! – Maria respondeu jogando um travesseiro na prima mais nova, que saiu do quarto correndo e chorando.<\/span><\/p>

L\u00facia percebeu a filha e perguntou o que tinha acontecido.<\/span><\/p>

– Maria n\u00e3o gosta mais de mim. Ela n\u00e3o gosta de mais ningu\u00e9m daqui. Eu tento, mam\u00e3e; quero deixar ela feliz, mas ela n\u00e3o \u00e9 mais feliz.<\/span><\/p>

L\u00facia sentiu pena da pequena garotinha, e com um aperto no cora\u00e7\u00e3o pegou as m\u00e3os da filha e fez carinho. \u2013 Isso n\u00e3o \u00e9 verdade, Ribeirinha. Maria ama todos n\u00f3s, ela s\u00f3 t\u00e1 <\/em>triste, mas isso vai passar. \u00a0<\/span><\/p>

– Quando? – perguntou a crian\u00e7a enquanto solu\u00e7ava.<\/span><\/p>

– N\u00e3o sabemos.<\/span><\/p>

Mais tarde naquele dia, as crian\u00e7as estavam se lavando e prontas para dormir, quando as tr\u00eas mulheres da casa sentaram-se \u00e0 mesa.<\/span><\/p>

L\u00facia estava possessa, tentava fazer Neuza reagir para ajudar a filha que estava cada dia pior enquanto Therezinha s\u00f3 escutava.<\/span><\/p>

Neuza abriu a boca, os l\u00e1bios tremeram enquanto enfim tentava desabafar.<\/span><\/p>

– Eu sempre a achei t\u00e3o forte. Nunca me esforcei muito em nada por ela porque Maria sempre resolvia. Eu n\u00e3o sei o que fazer, m\u00e3e.<\/span><\/p>

L\u00facia se manteve calada e Therezinha segurou a m\u00e3o da filha mais velha.<\/span><\/p>

– Eu n\u00e3o sei nem <\/em>como eu faria se fosse contigo ou tuas irm\u00e3s. Voc\u00ea n\u00e3o precisa saber tamb\u00e9m, mas ao mesmo tempo tu precisas fazer algo. Maria precisa de ti.<\/span><\/p>

Neuza olhou ent\u00e3o para a irm\u00e3.<\/span><\/p>

– Eu n\u00e3o fa\u00e7o ideia de como posso ajudar, toda vez que eu penso no que aconteceu minha press\u00e3o desanda.<\/span><\/p>

– Voc\u00ea vai ter sempre nossa ajuda, sei que tu \u00e9 vi\u00fava e s\u00f3 tem a Maria, mas se n\u00e3o fizer algo voc\u00ea pode perder ela.<\/span><\/p>

V\u00f3 Therezinha apertou a m\u00e3o de Neuza com for\u00e7a e falou:<\/span><\/p>

– Voc\u00ea vai dar apoio. \u00c9 hora de ser adulta e cuidar da tua filha, porque dessa vez quem precisa \u00e9 ela.<\/span><\/p>

Maria sempre tinha pesadelos pela noite. Ela se recusava a fechar os olhos e dormir at\u00e9 que o sono j\u00e1 fosse insuport\u00e1vel demais para aguentar. Mas naquela noite ela n\u00e3o dormiria s\u00f3. Neuza deitou-se do lado da filha e fez carinho no cabelo de Maria.<\/span><\/p>

– Eu vou sempre t\u00e1<\/em> aqui, e eu vou proteger voc\u00ea. – Sussurrou para a filha.<\/span><\/p>

Maria abra\u00e7ou apertado a m\u00e3e e dormiu sentindo o cheiro de Neuza, de casa, de seguran\u00e7a e de fam\u00edlia. E toda vez que ela acordava com medo era aquele cheiro que a envolvia, e eram as m\u00e3os da m\u00e3e que a colocavam para dormir novamente.<\/span><\/p>

Dois dias depois Neuza informou que iria para a cidade conseguir um m\u00e9dico para cuidar da filha, ela havia falado com a irm\u00e3 do falecido marido e ficariam na casa dela no dia da consulta.<\/span><\/p>

Depois de um certo tempo n\u00e3o havia mais ataques na press\u00e3o de Neuza e Maria come\u00e7ou a comer toda a comida do prato, bem como dormir a noite e brincar de sal\u00e3o de beleza com Ribeirinha.<\/span><\/p>

Mesmo assim, a fam\u00edlia nunca mais seria a mesma. Estavam mais unidos agora.<\/span><\/p>

– Nicoly Ara\u00fajo e Diego Martins<\/em><\/strong><\/span><\/p>\t\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t\t\t<\/div>\n\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t<\/div>\n\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t<\/section>\n\t\t\t\t<\/div>\n\t\t","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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