Mais de 100 pessoas, em especial mulheres e crianças, que vivem na comunidade quilombola de Guajará-Miri, localizada na região do baixo Acará, nordeste do Pará, foram beneficiadas com ações de proteção, saúde, educação, cidadania, estética e entretenimento. Elas foram promovidas pelo projeto Futuro Brilhante, que, há dez anos, atua com foco na prevenção da violência sexual na infância.
Alusiva ao mês das mulheres, a iniciativa ocorreu neste sábado, 9, na escola municipal da vila Cruzeirinho, beneficiando moradores não só deste vilarejo, mas também das vilas do Bacabal e São Miguel – três das seis que formam a comunidade, tendo ramal com acesso no km 24 da rodovia PA – 483, a Alça Viária do Pará.
Na ação as mulheres tiveram acesso às consultas médicas, orientações sobre o câncer de mama e hábitos de vida, serviços estéticos e lanches. Adenilda Corrêa, 44 anos, nasceu e vive até hoje na vila Cruzeirinho. Ela é agricultora e planta maxixe, maniva e melancia, e aproveitou a ocasião para sair da rotina, cuidar da estética e da saúde.
“Há uns cinco dias, eu estava esperando essa ação chegar. Já fiz as sobrancelhas, vou fazer limpeza de pele e me consultar com o médico. Minha filha e meus dois netos também estão aqui e vamos aproveitar todos os serviços, principalmente ir ao médico. Estamos felizes”, comemora a agricultora, que sentia dores nas costas.
Proteção às crianças
A programação também atendeu às crianças, por meio da Ação Proteger é Cuidar, voltada à prevenção da violência sexual, além de recreação, distribuição de brindes, lanches e de 35 kits com material escolar, para fomentar a permanência dos meninos e das meninas no ambiente formal de ensino – grande aliado no combate a esse tipo de violência.
“A violência sexual costuma acontecer essencialmente dentro de casa, é praticada por pessoas próximas, geralmente familiares. Então, a escola tem protagonismo muito importante nessa estratégia de prevenção e é uma forma de fortalecermos esses vínculos”, explica Diego Martins, coordenador-geral do projeto Futuro Brilhante.
Danielle de Belém tem 11 anos e está no 6º ano do ensino Fundamental II. A menina conta que gostou da ação e o que aprendeu. “Foi muito legal e incrível o dia de hoje, brinquei e amei muito jogar bola, vôlei. Aprendi também sobre a violência, que a gente tem que se proteger, não deixar ninguém tocar na gente, não esconder se sofrer violência e contar pros pais”, disse a garota, que estava acompanhada da mãe e do irmão.
O representante da Associação de Moradores e Produtores Quilombolas de Guajará-Miri, Joelson Cunha, considera que o projeto tem mudado para melhor a vida da comunidade, que sobrevive da agricultura, tendo como forte a produção do açaí e da bacaba (bebidas à base das frutas amazônicas), e farinha.
“A maior dificuldade da comunidade ainda é o acesso à saúde e educação, já que as unidades são distantes. A de saúde mais próxima fica a cerca de 5 km daqui. Uma ação como essa é um grande benefício pras famílias, porque evita deslocamentos distantes, pois tudo gera custos. Para nós, é gratificante ver a alegria dos pais e das crianças com o projeto e o estímulo que elas têm para vir pra escola”.
Projeto
Futuro Brilhante é um projeto de natureza voluntária, que nasceu em 2014 com a 1a edição do Natal Solidário na comunidade Guajará-Miri, e tem a missão de disseminar informações para a prevenção de violência sexual praticada contra crianças e adolescentes.
O coordenador-geral do projeto explica que Futuro Brilhante atua de forma mais regular em Belém, capital paraense, com ações nas escolas, centros comunitários e espaços religiosos. O foco é na prevenção desse tipo de violência, com atividades que envolvem música, pintura, jogos de tabuleiro, com crianças de 6 a 9 anos, e rodas de conversas com os adultos responsáveis por essas crianças.
“Tudo com intuito que eles reconheçam que a violência sexual existe, que ela está mais perto de nós do que gostaríamos e possam adotar estratégias de proteção das crianças, a fim de que não aconteça com as famílias atendidas por nós”, frisa Diego Martins.
Parcerias
Recentemente, o projeto foi selecionado, até os próximos 18 meses, pelo edital Coletivos da Fundação Abrinq, organização sem fins lucrativos, que atua há mais de 30 anos na mobilização da sociedade em defesa dos direitos e deveres das crianças e adolescentes.
“O Coletivo Futuro Brilhante integra o terceiro ciclo desse projeto, que iniciou em fevereiro de 2024 com apoio financeiro e técnico a coletivos de Belém, Rio de Janeiro e São Paulo. Reservamos vagas para todas as regiões do Brasil e estamos contentes em estarmos em Belém, na região Norte, para trazer essa diversidade, força cultural e regional que a Amazônia e o Pará têm para o Brasil”, destaca Thiago Battaglini, líder de Projetos Coletivos da Fundação.
Ele esteve presente na ação para conhecer, acompanhar, apoiar e fortalecer o trabalho do Futuro Brilhante. “É um privilégio e gratificante acompanhar e reconhecer essa prática em Belém, com grande quantidade de voluntários em comunidades afastadas, que têm dificuldade de acessar serviços de saúde, educação e cultura”, elogia Battaglini.
O projeto conta também com o apoio da Base Produtos Construtivos. Na ação deste sábado, 9, teve, ainda, a colaboração da Federação Internacional das Associações dos Estudantes de Medicina do Brasil (IFMSA Brazil) da Universidade Federal do Pará (UFPA), que levou 20 estudantes de Medicina e três médicos atuando como voluntários na realização de consultas e palestras à comunidade.
A estética das mulheres de Guajará-Miri teve o apoio da esteticista Paula Bastos, com limpeza de pele, e Tawane Nascimento, designer de sobrancelhas.
A próxima iniciativa do Futuro Brilhante, que está aberto a apoiadores e não tem vinculação política nem religiosa, será dia 23 de março no bairro da Cabanagem, em Belém.
Mais informações: WhatsApp (91) 99214-2537 e Instagram (@futuro.brilhante).
Texto:
Cleide Magalhães
Jornalista Profissional – 1563 DRT/PA.